Tuesday, February 20, 2007

Capítulo XIII.
Quando entramos no local que estava repleto de mibs(meninos in black) como Emerson definiu, fomos direto ao bar e a cerveja descia como água pela boca anestesiada. Souza ficava numa situação crítica com a maxila proeminente, mordendo o lábio superior e retorcendo a mandíbula para a direita e para a esquerda. Ele sempre queria mais. Todos queriam mais e a fila no banheiro fora inevitável. Tom Raiva deu a velha paranóia de atleta e disse que não tava mais a fim e foi pra frente do palco esperar a pancadaria correr solta pra ele se ambientar. Quando tava tecando a minha dentro do banheiro ouvi o começo do show e também fui pra frente do palco, mas eu era um cara doente, nunca estava satisfeito, olhei em volta e notei que aquilo não me representava como há treze, sei lá, quinze anos atrás. Sou meio megalomaníaco e quando me vi cantando e dançando como todos a minha volta, senti a velha angustia e o desprezo em fazer parte de qualquer contexto coletivo determinado. E voltei ao bar e o calabouço da minha memória não esquecia aquela deusa, tampouco aquele beijo e eu realmente queria estar com ela num quarto qualquer ao som de Hunky Dory do grande Bowie, uma obra magistral. Notei que não estávamos a mais de meia hora no local e eu já tinha tomado umas seis cervejas e Alice começou a me olhar com aquela sobrancelha arqueada, cigarro nos lábios e a leviana expressão do seu sorriso misturada com o olhar. Souza, Flávio, Emerson e Josué praticamente não saiam do banheiro, hipnotizados pela bicha malvada. Deu vontade de escrever qualquer coisa pra Alice. Peguei um guardanapo e saí em busca duma caneta. No instante em que um conhecido de vista tava me emprestando a pena, o bom e velho Duda Brandão sem pseudônimo, poeta e grande compositor de rock’ roll, apareceu do nada com aquele sorriso de cumplicidade e a eterna felicidade da certeza de estar no caminho certo; mais perto dos prazeres e da vida e o mais longe possível das instituições sociais:
_E aí velho Rafa!? Chega me deu um alívio quando te vi com a cerveja na mão. Me disseram que cê tinha parado de beber. Pensei que meu velho amigo havia enlouquecido. Tom Raiva ficou pirado com esses lances de malhação e jiu-jitsu. Não vá nessa onda não. Agente morre e fica essa porra toda aí.
_Não, tinha só dado um tempo, meu estomago não tava muito bem.
_E minha mãe...
_Que é que tem?
_Disse que agora abriu uma sede do A.A. lá no bairro, que era pra eu freqüentar as reuniões e essas coisas, quem é doido!?
_E cê falou o quê?
_Que não podia freqüentar o A.A. Já tinha passado dessa lição, tô agora na lição B.B.
_Hahahaha!..
_E agora que nasceu seu segundo filho meu velho, o que vai mudar?
_Em mim pouca coisa, quanto a ele, espero que cresça bonito e saudável e goste de rock. Me dê uma cerveja!
_Tome a ficha, vá lá pegar – eu tinha comprado algumas fichas pra encarar aquela noite e quando eu entreguei uma assim que me pediu, ele ficou olhando com uma teatral cara de felicidade mesclada com espanto e disse:
_Melhor coisa que fizeram por mim hoje, por isso que sou seu amigo – E foi pegar a cerva.
Quando Duda voltou a trupe estava toda reunida e, no instante que ele viu que tava todo mundo se mordendo, foi intimando na hora:
_E aí galera, quem é que ta com essa bicha?
_Qualé seu Duda?
_E aí seu Flávio?
_E aí seu Souza, quem é que ta portando?
_Fique na sua, esse aqui é Josué, um brother nosso jogador de futebol.
_E aí mano, massa?
_De boa!
_E aí seu Emerson!
_Ó pra essa porra! Cê tinha que ta aqui né sua desgraça?
_Num já sabe?
Enquanto isso, Souza ia tirando a pedra do bolso e me entregando, chapado de pó com a cara de bicho-do-mato bicudo:
_Rafa, vá lá com Duda e Alice que agente foi agora – tudo bem que o som tava alto, mas ele não precisava gritar no meu ouvido daquela forma e aproveitei pra chamar Alice que já tava se derretendo por um galego malhado com cara de playboy.
Ela veio perguntar se o cara podia colar, mas é claro que limamos o intruso rapidamente. Só que ele não se tocou e ficou plantado ao nosso lado na fila do banheiro que era perto do bar onde tava a rapaziada. Estendeu a mão pra Duda que olhou pro playboy de uma maneira desdenhosa e caricatural e virou-lhe a cara. O velho Brandão detestava seres do senso comum que se comportavam e se vestiam segundo as tendências da moda de sua contemporaneidade. Mas Duda havia esquecido que esses garotos bombados atingem aquela forma física por meio de exercícios, suplementos e esteróides anabolizantes que alteram seu humor. E foi com um extremo mau-humor que o cara agarrou Duda pelo pescoço e eu me interpus pra separar querendo evitar que se propagasse uma confusão enquanto eu tava com aquela pedra de pó em minhas mãos, mas o velho Duda, que tinha um terço da massa corpórea do cara e dez anos a mais, deu um soco na cara do cidadão e a putaria tava formada.

2 Comments:

Blogger Tiago Muzulon said...

Ou Antônio, putz, fico feliz pela discussão acerca disso, heheh, é cada um pensa como quer e como pode, né não... mas ou, eu ando por foríssima de tudo e até de escrever. putz, tô muito corrido, mas vou ver se nesta semana eu continuo a "parada". valeu garoto!

7:26 PM  
Blogger Antonio Diamantino Neto said...

nenhuma meu brother.

1:47 PM  

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