Sunday, August 20, 2006

Os capítulos III e IV estão fumegando. Não deixe de deixar comentários. Para leitores de primeira viagem, os capítulos I e II estão logo embaixo dessa página. O título da obra continua em aberto. Não esqueçam de visitar os poemas desse editor em www.diamantinoneto.blogspot.com. Um abraço!
Capítulo III

Antes que ele comece a contar o que havia aprontado, vamos explorar alguns dados acerca do personagem para que o leitor possa se ambientar sem ter que desistir dessa leitura e seguir os caminhos do entretenimento com raízes em Hollywood.
Conheci o cara aos nove anos quando meus pais se separaram e fui morar com minha mãe em Alagoinhas. Gostava de fazer maluquices como colocar bombas em caixas de correio das casas dos vizinhos, jogar pedras ou sacos de bosta dentro de igreja em horário de missa e sair em disparada, além de comprar as meninas da invasão com doces e iogurtes. Falava inglês e conhecia detalhes da cultura e o nome de todas as capitais do mundo. Sentia um enorme prazer em saber coisas que quase nenhum garoto sabia. Tocava piano e conhecia compositores clássicos e algumas leituras e filmes e um instinto avassalador levaram-no na adolescência, aos caminhos da trilogia pós-moderna ocidental: “sexo, drogas e rock n’ roll”. Sempre foi emotivo e intensamente envolvido com a vida, seja amando-a ou odiando-a. O nome Tom Raiva surgiu em Feira de Santana. A figura odiava quase tudo á sua volta e não tinha medo de dizer a qualquer pessoa o quanto ela era desprezível. Lembro que numa aula de filosofia na universidade, o rapaz havia ido de encontro ás idéias da professora acerca da obra e do pensamento de Nietzsche e quando a mesma apelou para o argumento de que era formada em filosofia sendo, portanto, filósofa, nosso protagonista olhou pra ela e disse a sons de doze badaladas: “enfie sua filosofia de merda dentro do seu cu!” e saiu ás gargalhadas. Sempre se gabava de sua suposta superioridade em se tratando de conhecimento literário. Dizia que o meio acadêmico era repleto de ordinários imbecis e que só pensava num canudo pra ter direito a cela especial depois do golpe que mudaria sua existência. Sua mãe era artista plástica e seu pai um trambiqueiro de marca maior, mas possuía gosto pelas línguas e pela leitura. O pai de Tom Raiva é o cara que conheci que mais leu obras de literatura, política, história, ufologia, ficção científica, religião, biologia, direito e outros temas. Nunca perguntei ao coroa sobre algum livro que ele não tivesse lido. Diz que vê espíritos. Realmente uma figura extraordinária o pai de nosso amigo.Contando piada e de bom humor com sol ou chuva. Quando foi preso devido á desvios financeiros na Caixa Econômica Federal, foi visitado pelo filho único na Corregedoria da Polícia Federal e Raiva foi dizendo: “Parecia àqueles filmes americanos Rafa, um vidro blindado entre nós e telefones pra trocar idéia e quando eu perguntei como ele tava, o cara foi logo com piada dizendo que o Brasil não existia. Que no Regime Militar foi exilado em Londres e que no governo Lula, mandam prende-lo”. Seu Roberto possuía a mesma cara do filho, o que os diferenciava era a cor dos olhos - azuis do pai e verdes do filho - , a cor da pele de Tom era um pouco mais escura em virtude da influencia da mãe que era morena e o cabelo do coroa era grisalho e castanho claro o do filho. Sua mãe era e ainda é muito bonita. Sempre fora superprotetora com a prole única. Talvez o amor exagerado tenham feito com que o cara se achasse a pessoa mais especial desse planeta. Dona Victória sempre conversava com ele tentando mostrar os caminhos da virtude e quase chegou a loucura quando o rapaz era adolescente. Nessa época as paixões, o rock, as drogas e uma sensibilidade exagerada, levaram-no a realidades incompatíveis com os caminhos que a mãe imaginava para nosso herói. Queixas, delegacia de polícia, traficantes, vadias e marginais era o meio habitado por Raiva. O Jiu-Jitsu foi a igreja que tirou-o das drogas químicas e criaram na megalomaníaca mente do cara, a idéia de que era a representação do homem que dominaria o planeta no futuro, um ser aprimorado física e mentalmente. Sabia que não era humilde e quando tava com grana, gostava de reunir os amigos pra milhares de cervejas. Acho que sou seu amigo mais velho, o que sobrou. Ele sempre entra em conflito com os amigos por causa de mulher ou por um sentimento louco que tem de achar que já que ele não faz questão de nada, seus amigos tem que pensar da mesma forma ou são sovinas, burgueses e mesquinhos medíocres. Uma pessoa difícil de lidar. Suas namoradas saiam da relação extremamente atormentadas, as personalidades mudadas e com uma espécie de sentimento doentio em relação a ele. Quando vi o cara aqui em Salvador de madrugada, na porta do meu prédio com aquela cara de arrependimento, sabia que coisa boa não tinha acontecido.
No apartamento, ele colocou It’s Only Rock and Roll dos Stones e perguntou se tinha alguma coisa pra beber. Lua me deu um beijo e pediu pra que eu contasse as novidades de nosso amigo no dia seguinte, estava exausta e ia dormir.
_Voltou a beber meu caro? Você agora não é atleta?
_Não venha com piadinha não. Tem o que aí?
_Agente chegou de viagem agora...
Ele me interrompeu bruscamente:
_Ta, eu sei. Vai me contar todos os detalhes da viagem ou vai me dizer, de uma vez por todas, se tem alguma coisa nessa casa que se possa beber?
_Tem um conhaque e uma abaíra que agente trouxe da Chapada.
_Vou ver se tem gelo.
Quando abriu a porta da geladeira foi intimando na hora.
_E esse Piagentini suave?
_Esse vinho é de Luana, meu negócio é cerveja.
_Tome o dinheiro, amanhã cê compra um igualzinho e bem bonito pra ela.
_Tem saca-rolha na segunda gaveta do lado do fogão- O apartamento era composto de uma cozinha pequena com os pôsteres de Lua de dois filmes de Almodóvar nas paredes, um quarto, um escritório com meus livros e um computador, banheiro e uma saleta de entrada com dois quadros de Suzart e esculturas de Josilton Tomn e, é claro, os vinis, a vitrola e os CDs que embalavam e embalam minha vida e escrita. O quarto era como se fosse só dela. Fotos nossas e dos pais de Lua, livros de teoria da literatura e lingüística aos montes, um cabide repleto de roupas de mulher e um guarda-roupa com penteadeira entupida de perfumes, cremes, esmaltes, etc.
A curiosidade tava quase me matando e antes que eu perguntasse o que tinha acontecido, ele começou com sua oratória circular característica:
_Você é um cara de sorte. Mora na capital, um emprego com férias e décimo terceiro, tranqüilidade pra escrever e uma linda mulher que iluminou a sua vida. Eu só me envolvi com mulheres sujas e sórdidas, todos gabam minha inteligência e eu não ganho um centavo.
_Se lembra Tom, que você sempre citava Raul?, “Não adianta perguntas não valem nada. É sempre a mesma jogada, um emprego e uma namorada, quando você crescer”? E hoje está aqui me dizendo que eu tenho sorte por tudo aquilo que você sempre repudiou. Conheci muitas mulheres bonitas e interessantes que fizeram parte do seu menu, mas você acaba transformando-as naquilo que mais repudia numa mulher: sua imagem e semelhança.
_É que eu só começo a gostar delas de fato, quando ta perto do fim.
_Entendo.
_ Sabe que quando gosto duma figura, sou muito ciumento e dominador...
_Isso é um problema de hipocrisia sem limites se tratando de um cara como você.
_Me deixe terminar. Tô ficando com uma figura que faz biologia, o nome dela é Fabiola e tem um filho de dois anos chamado Tiago. Quando almoçava na casa dela, o celular da criatura tocou e ela veio com aquele papo ao telefone que não podia, que tava com namorado. Foi quando levantei da mesa e tomei o celular da mão dela e falei com o cara:
_Você é viado filho da puta? Que é que cê quer com a mulher dos outros? E advinha Rafa o que ele respondeu?
_Mandou você tomar no cu, se fuder, sei lá.
_Não, ele mandou eu perguntar a Fabíola se ele era viado.
_E aí?
_Esqueceu que Lex Luthor é a mente criminosa mais perfeita do universo? - Na infância, Tom era assíduo leitor de HQs e deixava de merendar na escola pra comprar as revistas. Às vezes citava personagens desse universo em suas narrativas orais.
_Conte a porra da história caralho, tenho que dormir.
_Então convenci Fabíola a ligar pro cara duas horas depois marcando um encontro e dizendo que eu sou só um cara que ela ta ficando, que não é nada sério. Eu disse que não ia machucar o infeliz, que só ia dar um susto e que se ela não fizesse o que eu tava pedindo, iria me dar motivo pra acreditar que ela ainda saia com o pilantra.
_E aí? Ela topou?
_É claro. Mandei que ela marcasse com ele no auditório em construção dentro da universidade e lembra aquele meu amigo Flavinho do Jiu-Jitsu?
_Seu fiel escudeiro?
_Sim.
_Que é que tem?
_Eu deixei tudo combinado com ele. Quando o otário chegasse com Fabíola, Flavinho já estaria fumando um baseado com Aline no Auditório como se fossem apenas mais um casal querendo tranqüilidade numa obra monumental abandonada. Eu fui seguindo Fabíola há uma distancia de cerca de duzentos metros. O carro dele chegou, ela cumprimentou o infeliz, ele convidou-a a entrar no carro, ela não aceitou e foram andando na direção do auditório. Entraram na armadilha e nesse instante eu citei as palavras do Surfista Prateado quando ia enfrentar Galactus numa edição histórica desenhada por Moebius e escrita por Stan Lee: “Não nos é permitido saber se lograremos êxito ou não. Não há desonra em falhar. Só uma vergonha é definitiva: a covardia de não ter tentado”. E fui na direção do brutamontes de quase dois metros de altura, fiz que ia lhe dar a mão e na hora que ele me estendeu a dele, voei em seu tornozelo, apliquei uma queda e tentei estrangular o desgraçado que acabou se desvencilhando e foi pegar uma pedra. Foi nessa hora que Flavinho veio por trás de surpresa, imobilizou-o segurando os dois braços do cara e eu aproveitei pra desferir vários golpes na cara do imbecil. Teve um momento em que ele se abaixou e meu soco acabou atingindo Flavinho, duplicando nossa ira. Enquanto Flávio aplicava um mata-leão no brutamontes, eu ia quebrando e rodando o tornozelo da criatura. Fabíola desmaiou e Aline gritava em crise histérica. Quando tudo acabou, que vi o cara todo fudido tentando levantar com o pé quebrado, senti o maior remorso de minha vida. E Flavinho ainda foi e deu um chute nas costelas do cidadão. Uma monstruosidade. Deus me perdoe do fundo do coração. Fabíola desmaiou e a menstruação dela chegou fora de hora em virtude do nervosismo e do abalo emocional causado.
_E você fugiu como sempre.
_O playboy deve ser filho de alguém influente em Feira, pelo carro que ele tava dirigindo dava pra notar.
_Você ta pirando meu amigo. Eu que te conheço, sei que o arrependimento que você vai sofrer será pior pra seu espírito que duas surras dessa são para o corpo.
_Agora entende porque eu queria beber?
_É claro! Vou dormir. Amanhã você me conta o resto e abaixe um pouco o volume do som.
_Valeu!
Entreguei um cobertor e um travesseiro ao maluco, fechei a porta do quarto e deitei ao lado de Lua que beijou o meu pescoço e perguntou:
_Ele matou alguém?
_Ainda não.
_Boa noite!
_Boa noite princesa!
Com os olhos abertos na escuridão do quarto tentava imaginar a cena e peguei no sono.

Capítulo IV.

O despertador tocou. Eu levantei, desliguei o alarme e ela continuava dormindo com a boca entreaberta. Queria saber pintar. As palavras seriam infelizes, mas vou tentar. Pense numa morena literalmente cor de jambo, olhos castanhos esverdeados, perfeitos lábios carnudos, pernas, bunda e panturrilha inacreditáveis numa mistura de genética favorecida e anos de academia de ginástica. Tudo isso bem ali, vestida somente com minha blusa e deitada de lado esperando o único felizardo com tesão matinal de mijo do mundo que poderia naufragar em tuas carnes atingindo a alma naquele instante.
_Mais linda do planeta, ta na hora de acordar! - Fui pro lado da cama pra onde seu rosto se virava e quando ela abriu os olhos, eu já tava nu, passando a pica em seu rosto.
_Que maneira interessante de acordar – Ela foi falando e lambendo a cabeça de meu pau e chupando e botando quase todo na boca. Não sei se essa observação pode sofrer a nítida influencia do conjunto da obra, mas Luana é a mulher que mais sabe chupar pica que conheci em minha vida. Talvez seja por coisas como essa que seu ex-marido queria me matar quando ela o deixou pra ficar comigo. E chupava e lambia meu umbigo e beijava o saco escrotal e voltava pra cabeça e gemia com a pica na boca, algo inenarrável. Tentei retribuir a altura. Tirei o resto de cobertor que a cobria de cima da panturrilha, abri suas pernas e os caleidoscópicos quadríceps e fui chupando aquela bucetinha que mais parecia xoxota de menina moça e ela puxava meu cabelo e eu não agüentei e tive que meter a pica.
_Ssshhh!!! Quero acordar todo dia assim, aisshss, aiishsss, mete vagabundo, aisssh! Vai! – e arranhava minhas costas e eu tentava controlar a respiração pra prolongar, mas ela veio chupando meu pescoço e minha orelha com aquela boca sublime e com a boca de baixo num popoerismo em contrações constantes, não consegui e gozei. Ela me beijou, limpou o suor de minha testa e me deu um abraço que me fez sentir amado e tive vontade de chorar. Vou te amar até depois de morta mulher. Criatura mágica que transforma a possibilidade de sua ausência em martírio sangrento e o fim das delicias do odor da sua pele em poesia extraterrena!
_Será que agente fez muito barulho?
_Êta Lua, esqueci que Raiva ta dormindo aí na sala.
_E não tem nada pra tomar café.
_Vá se arrumar que vou descer pra comprar alguma coisa.
Quando abri a porta do quarto notei que ele não tava na sala. O cobertor dobrado sobre o travesseiro e um bilhete em cima da mesinha de vidro onde estava escrito: Velho Rafa, estou numa barraca de praia em Jaguaribe em frente ao anuncio do Muralha da China, o dono deixa tocar CDs de rock e levei alguns seus como Led, Iggy Pop, The Clash, mas estão em boas mãos. Se quiser tomar uma pode vim que eu pago. Aquele cd do John Coltrane é muito bom. Thank’s for your hospitality. Ele sabia que eu detestava que pegassem minhas coisas e que odiava emprestar. Ao contrário dele que lia um livro e dizia que não precisava mais.
Desci, cumprimentei o porteiro e andei os oitenta e cinco passos que separam a frente do edifício da padaria do outro lado da rua. Comprei pão, granola, aveia, queijo, ovos, manteiga, presunto e iogurte e quando cheguei em casa, ela remexeu as compras e perguntou com a cara de tristeza.
_Por que não comprou nenhuma fruta meu amor?
_O supermercado é meio longe, eu só fui na padaria.
_Cadê Tom?
_Saiu desde cedo, deixou bilhete dizendo que foi á praia beber e ouvir rock.
_Só que os mortais tem que trabalhar. A nós não foi dado o magnífico dom da criação literária.
_Você acha que quando passo o dia escrevendo naquele computador, não estou trabalhando?
_Estava me referindo á seu amigo. Você vai dar aula no cursinho á noite, não vai?
_È claro. Eu ganho por hora. Se não for, não ganho, logo; não consumo, portanto, não existo.
_Você perde o charme natural com essas piadinhas pseudointeligentes sem sucesso.
_Obrigado! Mais alguma declaração?
_Não, já vou trabalhar. Meu beijo! – eu sempre achei mais que superficiais esses beijos de despedida, mas nunca disse isso á criatura afinal, um pouco de normalidade não pode ser tão mau assim. Beijei-a e perguntei se ela ia jantar am casa ou fora essa noite.
_Vamos jantar em casa. Quem chegar mais cedo começa a preparar, certo?
_Vou chegar bem tarde.
_Vai ficar com fome. Tchauzinho!
_Tchau gatona.
O dia em Salvador pedia uma praia apesar de ser segunda-feira. O céu estava num azul de deserto sem nuvem e a saudade do mar, e o desejo de resgatar meus CDs, fizeram com que colocasse uma bermuda, uma sandália e uma camiseta e me dirigisse pra referida barraca de praia em Jaguaribe. Não posso beber, tenho que dar aula hoje á noite e quando encontro Tom Raiva, tudo pode acontecer.