Sunday, September 16, 2007

Capítulo XVI.

_Tome o verso e termine o poema – Alice me entregou o guardanapo amassado na porta do motel e eu comecei a lembrar do final da noite, dos melhores amigos humilhando-se por ela num barzinho na Matriz e do instante em que eu, possesso pela Santa Deusa Mãe Literatura, apanhei o guardanapo e dediquei-lhe estes versos:
"Talvés seja a expressão de prazer
Ou seu olhar coberto de brumas
Mas não há quem possa fumar
Com a mesma graça com que fumas".
Ela entendeu o meu poema e eu, o seu sorriso.
E espero que o leitor entenda que o que era pra ser dito, já foi dito no capítulo XV.

Capítulo XVII.

A porra do celular não parava de tocar. Detesto ser acordado. Deixei tocar, mas insistia e, quando atendi, ouvi aquela voz feminina perguntando:
_Alô! Sabe quem ta falando?
_Alice?
_Não.
_Sofia?
_Ta tão cotado assim é?
_Vai logo, fala quem é de uma vez por todas.
_Se você não identificar minha voz o quanto antes, vou começar a questionar minha atitude, vou desligar o telefone e esquecer tudo o que você falou. Ou você anda declamando poemas pra todo tipo de mulher no meio da rua?
Jesus Cristo! Era ela! Como voltar a terra, evitar um colapso e, ao mesmo tempo dar uma resposta convincente num espaço de dois segundos? Aí ela insistiu:
_Que foi, ficou mudo?
_Não. Tô tentando me acalmar.
_Então, vai responder a minha pergunta?
_Qual?
_Se você sempre declama poes...
_Só quando é a mulher dos meus sonhos.
_E eu sou essa mulher?
_Tem alguma dúvida?
_Infinitas.
_Me dê uma chance de te mostrar.
_Que horas?
_A hora que você quiser.
_Ta assim é? Não trabalha nem estuda não?
_Nada é mais importante do que ser agraciado pela sua luz.
_Quando tiver pronta te ligo. Você tem carro?
_Nem sei dirigir.
_Quando ligar agente marca em algum lugar. Como é que um homem desse não sabe dirigir?
_Mas sei outras coisas.
_Um dia eu te ensino a dirigir.
_Lua meu bem, não fale em futuro, ele é só uma suposição. Deixa só ouvir a sua voz e ser feliz.
_Valeu! Depois te ligo.
_Ligue!
_Beijos!
_Outros!
Ela desligou e eu comecei a andar pelo quarto querendo ordenar as idéias e correr e sair gritando e esqueci universidade, trabalho, a hora do almoço, meu avô de câncer, o aviso de corte da empresa fornecedora de energia, que eu era alguém, que tinha uma história e que era uma entidade no universo.
Só havia aquela criatura em meu olhar. Meu deus, nem dormi com ela e já estou alucinado. É melhor manter o controle e recarregar o celular. Tenho que bater uma gelada ou então terei uma úlcera de ansiedade á espera de um telefonema. Há certos momentos nos quais chego a acreditar que é bom, muito bom viver.